André Pereira

André Pereira

Licenciado em Radioterapia e Pós Graduado em Radiações Aplicadas às Tecnologias da Saúde. Radioterapeuta com 16 anos de experiência. Pai e Marido. Apaixonado por livros e música e por tudo o que eles nos dão.

Ser (bom ou mau) profissional de saúde

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Em todas as profissões existem bons e maus profissionais e a radioterapia não será excepção. Enquanto utente dos vários serviços de saúde reconheço como me sinto enquanto estou numa consulta, exame ou tratamento e o que sinto enquanto estou nesse lugar, está intimamente ligado à pessoa que sou. Assumindo que isto será verdade pelo menos para a maior parte das pessoas, será natural pensar que, perante o mesmo cenário, diferentes pessoas sentirão diferentes coisas, pois afinal de contas somos todos ligeiramente diferentes.

Perante isto o que significa ser bom ou mau profissional?

Claro que identificamos o que é um mau profissional quando este viola a conduta e a ética da profissão, mas esse é um caso extremo. Ainda assim, e por oposição, um bom profissional é aquele que atende a tudo o que queremos? Não creio. É natural que nos sintamos revoltados quando do outro lado alguém nos nega algo que necessitamos, mas quer isso dizer que estamos perante um mau profissional? É claro que a diversidade de situações é enorme e algumas existirão em que sim, estaremos perante um mau profissional, e outras em que não.

Dir-me-ão que um equilíbrio é necessário, e creio que têm razão. Mas, correndo o risco de ser repetitivo, o que significa ter esse equilíbrio? Ou talvez mais correcto, como encontrar esse equilíbrio? O bom-senso deverá ser parte importante disso, mas deixem que vos diga, que ele não é igualmente distribuído. Na verdade, e talvez sendo mais justo, o nosso bom-senso está intimamente ligado àquilo que vivemos e conhecemos e inevitavelmente ligado à pessoa que somos. Pessoas mais maduras ou mais inexperientes – não estou a falar da idade – terão noções diferentes de bom-senso e que podem vir de locais como a confiança que tem em si e nos outros ou na capacidade de se colocarem no lugar do outro.

Significa então isto que um profissional de saúde mais introvertido é pior do que outro mais extrovertido? Significa isto que um profissional mais sensível é pior do que outro que demonstra estar perfeitamente em controlo? Este raciocínio pode estender-se. Um profissional que parece não se envolver com o sofrimento de outra pessoa, não se envolve mesmo ou não sabe como processar esses sentimentos dentro de si?

Somos todos pessoas e cada um desenvolve as suas estratégias para lidar com o sofrimento das pessoas que trata. A desumanização é, sem dúvida, uma delas. Fazendo uso de um sentido mais literário, esta situação poderia ser a de um rochedo preso na rebentação das ondas do mar. Dormente de tanto impacto. Quando sentimos do outro lado um profissional que parece estar dormente para o nosso sofrimento é quando o começamos a julgar. Este é talvez o retrato mais comum do que, de uma forma geral, identificamos como um mau profissional ou, se quiserem, um robot. Mas será mesmo? Não poderá ser este profissional visto como alguém que não tem outra estratégia para lidar com uma situação que lhe é emocionalmente avassaladora?

Que fique claro que não estou a defender a desumanização como estratégia, antes pelo contrário. Humanizar a saúde tem sido um tema bastante discutido e identificado como uma necessidade. O Humanismo faz falta e diria mesmo ser essencial à saúde. O que escrevi até aqui serve apenas para salientar um aspecto um pouco mais esquecido quando se fala da humanização em saúde. É que também os profissionais são humanos e urge, por isso, pensar que cuidados mais humanizados só podem vir de profissionais mais humanos. Isto passa por um crescimento pessoal e profissional no que toca à forma de encarar não só o sofrimento (seu e dos outros) como também a morte. Nesta área a formação é escassa e mesmo ensinando técnicas é difícil ensinar alguém a ser mais humano se não partir de dentro.

Por isso é sempre melhor começar por olhar para nós próprios, pois, no final de contas, somos todos humanos. Doentes e profissionais.

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