Protecção Radiológica

Animação retirada de TED Ed

A Segurança

Esta é uma parte dedicada áquilo que existe dentro de um serviço para o proteger. Uma vez que faz uso de radiação ionizante, a Radioterapia enquadra-se dentro de um vasto conjunto de práticas em que a segurança é mais do que uma obrigação. É uma forma de estar. Faz parte da cultura.

Este conjunto de práticas está, não só patente na legislação nacional e europeia, mas também sobre a forma de diretrizes emitidas por vários organismos a nível mundial dos quais saliento a Agência Internacional de Energia Atómica (IAEA), a Organização Mundial de Saúde (WHO) e a Comissão Internacional de Proteção contra Radiações (ICRP).

Então o que fazemos para garantir a segurança?

Barreiras

Tudo começa no planeamento da construção do edifício. Entre muitos outros aspetos é neste momento que se decidem onde vão ficar as paredes das salas onde vão estar equipamentos que produzem radiação. 

Porque é que as paredes são importantes? Bem, porque seguram o teto! Mas não é só por isso. Fora a brincadeira, já vimos como o facto de a radiação ter mais ou menos energia faz com que ela consiga atravessar diversos materiais. 

Isto quer dizer que se as paredes forem “normais” a probabilidade é que a radiação as atravesse e saia da sala.

Assim, o planeamento e construção das paredes assenta em estudos que estimam a quantidade de radiação produzida pelo equipamento ao longo de um ano de trabalho, de modo a ajustar espessura e materiais suficientes para que a radiação fique contida dentro da sala.

Imagem de https://www.iaea.org
Imagem de https://www.iaea.org

É nas barreiras que começa a proteção radiológica. A dos profissionais que lá estão todos os dias durante várias horas e a das pessoas que lá vão fazer os seus tratamentos. 

Percebe facilmente que se as radiações saírem da sala os profissionais estarão expostos, durante a sua vida profissional, a grandes quantidades de radiação não controlada e injustificadamente com prejuízos graves para a sua própria saúde. 

Quanto às pessoas em tratamento o princípio mantém-se. A exposição a radiação é o tratamento. No entanto, é exposto a uma quantidade de radiação especifica, altamente controlada, de forma a que não seja nem a mais nem a menos do que aquilo que foi estudado. 

Assim, se dentro de um serviço de radioterapia existissem radiações não controladas, também as pessoas sujeitas a tratamentos estariam expostos a radiações provenientes do tratamento de outros.

A Sinalização

No interior de um serviço de radioterapia encontrará também alguma sinalização cujo respeito é da maior importância. Embora possam passar despercebidas todas as áreas são delimitadas e classificadas em áreas controladas, áreas vigiadas e áreas livres. 

As áreas controladas e vigiadas (de uma forma geral as salas de tratamento e de controlo) são de acesso restrito e só poderá entrar nelas acompanhado por um profissional. As áreas livres não têm acesso controlado e são geralmente as áreas publicas do serviço. 

Respeite a sinalização. Abrir uma porta pode significar uma exposição acidental a radiação. Circule apenas pelas áreas livres.

Ainda no interior de um serviço poderá encontrar sinalização luminosa em algumas portas. Geralmente salas onde se encontram equipamentos produtores de radiação e onde poderá ver luzes semelhantes a um semáforo. Com 2 ou 3 luzes têm geralmente o seguinte significado. 

  • Vermelho – Não entrar. Equipamento a produzir radiação.
  • Branco – Não entrar ou entrar com precaução. Equipamento preparado para produzir radiação.
  • Verde – Pode entrar. Equipamento em standby.

Controlo dos Profissionais

A titulo de curiosidade pode verificar que a maioria dos profissionais num serviço de radioterapia anda com um equipamento pequenino ao peito.

Chamam-se dosimetros e servem para contabilizar a dose de radiação a que os profissionais estiveram expostos num determinado período. Todos os que trabalham em áreas controladas ou vigiadas são, por lei, obrigados a usá-los. 

Enquanto profissionais expostos, estamos limitados na dose de radiação que podemos receber anualmente e num período de 5 anos consecutivos, sendo todos os resultados anómalos obrigatoriamente comunicados ao registo central de doses competência da Agência Portuguesa do Ambiente.

Imagem de https://www.https://www.radetco.com/

Tudo isto tem enquadramento em Decretos-Lei Portugueses e Europeus e directrizes provenientes vários organismos, que assentam em alguns princípios dos quais se destacam os seguintes.

O Princípio da Justificação

O princípio da justificação tem como função orientar o uso de radiação ionizante. A legislação nacional indica que:

Nenhuma pessoa pode ser submetida a uma exposição radiológica médica, diagnóstica ou terapêutica, a não ser que a mesma tenha sido justificada por um médico responsável, tendo em conta:

  1. O benefício potencial direto para a saúde do indivíduo ou para a sociedade em comparação com o detrimento que essa exposição possa causar;
  2. A eficácia, os benefícios e os riscos das técnicas alternativas disponíveis com o mesmo objetivo, mas que envolvam menos ou nenhuma exposição a radiações ionizantes;
  3. Critérios de referência adequados para as exposições a prescrever, no caso de exposição para diagnóstico. Na prática indica que o uso de radiações ionizantes está limitado a uma prescrição médica que deve assentar na avaliação que faz da situação.

 

Nesta avaliação deverá ponderar se existe benefício para o indivíduo, se não existe outro método com igual eficácia e que não necessite de radiação ionizante e claro, em conformidade com as boas práticas clínicas.

No contexto da radioterapia a justificação encontra-se no protocolo de tratamento definido para aquele doente em particular, por um conjunto de médicos em consulta de decisão terapêutica. Neste momento e após discussão multidisciplinar (várias especialidades médicas) é elaborado um plano de tratamento personalizado assente na melhor ciência existente, justificando assim a eventual exposição à radiação em função do potencial ganho para a saúde.

O Princípio da Optimização

O princípio da optimização é o passo seguinte à justificação. O médico na sua avaliação considerou que ser exposto a radiação é o tratamento que melhores resultados apresenta. Deste modo, a optimização vem orientar esta exposição no sentido em que seja usada a quantidade de radiação absolutamente necessária para atingir o objectivo da exposição. Nem de mais nem de menos.

No contexto da radioterapia a optimização passa por garantir que administramos a quantidade de radiação prescrita pelo médico ao volume alvo, minimizando a radiação que chega aos tecidos sãos adjacentes. 

Este tipo de optimização é feito na fase do planeamento do tratamento. É aqui que são decididas quais as incidências a dar aos feixes, o tipo de radiação, a sua energia bem como a quantidade de radiação a administrar através de cada um deles. É também aqui que são planeadas as protecções possíveis aos tecidos vizinhos. 

No conjunto de todas as incidências o volume alvo deverá ter a dose prescrita pelo médico e órgãos vizinhos não deverão exceder as tolerâncias para cada um deles. O sistema de planeamento tem várias ferramentas que permitem uma análise detalhada da distribuição da dose de radiação pelo corpo de cada pessoa.

No fim, a optimização significa também que não há dois planeamentos iguais. Cada pessoa que chega à radioterapia tem a sua individualidade e com ela um planeamento verdadeiramente individual e personalizado. Por outras palavras optimizado ao seu caso.

Mas a optimização não se esgota no planeamento. Na verdade, ela está presente em diversos outros pontos de todo o processo. Começa na manutenção cuidadosa dos equipamentos, nos seus controlos de qualidade e nos procedimentos adoptados.

Todas as instalações de radioterapia são obrigadas a ter um programa de protecção e segurança radiológica do qual depende a licença para poderem tratar pessoas. Este plano contém, entre outras coisas, o plano de manutenções dos equipamentos usados na instalação e o seu respectivo programa de controlo de qualidade. Este controlo de qualidade passa pela verificação de diversos parâmetros, com várias periodicidades e tem como grande função garantir que o equipamento está a trabalhar dentro da normalidade.

Relativamente à protecção radiológica associada às práticas, passa por ter implementados procedimentos para as várias actividades no sentido de tudo ser feito de igual forma por todos os intervenientes garantindo também que tudo é feito de acordo com as melhores práticas.

Resumindo...

A radioterapia sendo um tratamento assente em exposição a radiações ionizantes tem no seu centro uma cultura de protecção e segurança radiológica. Começa na infraestrutura, passa pelos equipamentos e termina nos procedimentos. 

Todos os cuidados que existem advêm do grande respeito pela radiação, mas também do seu conhecimento permitindo retirar dela apenas o que queremos, minimizando os seus aspectos não desejados. 

A cultura de segurança é transversal e sempre centrada no valor das vidas dos que tratam e são tratados com recurso a radiações.

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