Etapas

Imagem cedida por Elekta

Etapas

Ao chegar à radioterapia é comum o desconhecimento sobre o que lá se passa. Se noutras especialidades médicas é já algo comum saber o que esperar, a radioterapia está cheia de mistérios, preconceitos e por vezes de férteis imaginações. 

Com excepção às pessoas que ou já fizeram tratamento no passado ou têm alguém próximo que já fez, a radioterapia é uma área pouco conhecida e sobre a qual as pessoas tendem a não falar. 

Dito isto é para isso que cá estamos. Para abrir as portas e tornar mais claro.

A consulta inicial

Doctor man consulting patient while filling up an application form at the desk in hospital. Medicine and health care concept
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A consulta inicial é, normalmente, o primeiro contacto com a radioterapia. Existem alguns serviços em que esta consulta é chamada de acolhimento e tem como função dar a conhecer a radioterapia, o serviço, os acessórios, os equipamentos, enfim… acolher. Fazer sentir que se é esperado, dar a conhecer o que se vai passar de modo a diminuir alguma ansiedade. 

É geralmente feita por uma equipa multidisciplinar e é um espaço individual e personalizado em que pode e deve colocar as dúvidas que tiver. No entanto, nem todos os serviços fazem do acolhimento uma consulta separada. Este acolhimento pode ser feito pelo médico naquela que também se pode chamar de consulta de primeira vez. 

Aqui, para além dos aspectos já referidos, o médico explicar-lhe-á todos os aspectos do seu tratamento, os objectivos, potenciais efeitos secundários e responder a todas as questões que possa ter sobre a sua doença e sobre o seu tratamento.

TAC para planeamento

Esta etapa consiste na aquisição de imagens de TAC semelhantes a alguma outra que possa já ter feito anteriormente. Se já fez para que é que precisa de outra? Bem, esta TAC tem um objectivo um pouco diferente das outras que já possa ter feito. Esta não tem como objectivo diagnosticar nada (ao fim ao cabo já chegou à radioterapia com um diagnóstico feito), mas serve antes de base para podermos fazer o planeamento do seu tratamento. Mas já lá vamos.

É nesta fase que são decididos a posição em que vai fazer o tratamento, os acessórios que vai usar (para o ajudar a ficar mais estável ou mais imóvel). O Radioterapeuta que vai estar consigo deverá explicar-lhe o que são e para que servem, bem como todo o procedimento que vai adoptar. Nesta fase é de particular importância o seu contributo pois esta vai ser a posição que vai ser repetida ao longo de todo o seu tratamento, implicando por isso, que consiga estar imóvel nela durante algum tempo. 

Participe nesta escolha de acessórios e posicionamento, particularmente se sente dores ou se sente que não consegue manter a posição. É também de referir que alguns tipos de tratamento requerem posições particulares pelo que este processo terá que ser uma quase negociação entre o que são as necessidades técnicas do procedimento e a posição mais confortável possível. Se não se sente confortável com a posição que lhe foi indicada, se sente ansioso, informe o Radioterapeuta que está consigo. Temos várias estratégias para o ajudar a estar mais confortável.

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Definida que está a posição o passo seguinte é a aquisição das imagens propriamente dita. Daqui para a frente deverá ficar o mais imóvel possível (sem esquecer de respirar!). Existem vários tipos de equipamentos de TAC mas nesta altura a marquesa onde se encontra deitado mover-se-á fazendo-o passar pelo feixe de radiação. 

As imagens de TAC são aquilo que veríamos (e desculpem-me o grafismo da descrição) se fatiássemos uma pessoa. Quanto mais finas as fatias, melhor a imagem. É uma ideia horrível eu sei, mas é a forma mais fácil e perceptível de descrever o que é uma imagem de TAC.

Finalizada a aquisição de imagem deve permanecer imóvel. A fase seguinte passa pelo Radioterapeuta criar referências no seu corpo para que possamos mais facilmente reproduzir a sua posição daí para a frente. 

Como é que o fazem? Provavelmente reparou ao entrar na sala que existem umas luzes verdes ou vermelhas nas paredes da sala. São lasers (não se preocupem. São inofensivos). Nesta altura eles estão projectados na pele e serão os nossos guias para fazermos algumas pinturas e tatuagens na sua pele. 

O quê? Tatuagens? Sim. Mas não das que estão a pensar. Vamos às pinturas primeiro. Quando são usadas, mais não são do que uns riscos de caneta tendo como função referenciar algum aspecto mais concreto da sua posição. 

Quanto às tatuagens, sim. São geralmente feitas. Trata-se de introduzir sobre a sua camada mais superficial de pele uma pequena gota de tinta que ficará com um aspecto em tudo semelhante ao de um vulgar sinal. Chamam-se tatuagens pois são feitas através do mesmo processo que as tatuagens artísticas.

Consiste em introduzir tinta através de uma agulha. Não se preocupem. Podem sentir uma pequena picada, mas muito menos intensa do que as que sentem ao levar uma vacina ou a fazer uma colheita de sangue. Lembrem-se que a agulha apenas penetra nas camadas de pele e não no músculo.

Nesta altura o procedimento deverá estar concluído, podendo, com a sua permissão, ser tiradas algumas fotos com o fim de melhor documentar a posição em que ficou e que vamos querer reproduzir daqui para a frente. Estas fotografias farão parte do seu processo clínico e não deverão ser usadas para mais nenhum fim.

Planeamento

Esta é uma etapa de bastidor e que, como tal, não é normalmente vista por quem é tratado na radioterapia. É a fase em que o tratamento é planeado.

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Na imagem adquirida, e com recurso a outros exames que tenha já feito, são identificadas as áreas a tratar. Cabe ao médico radioncologista integrar toda a informação clínica de modo a definir quais os objectivos do tratamento e a melhor forma de os atingir. 

Assim, identifica todas as áreas onde existe (ou existiu) doença macroscópica, bem como as áreas onde é provável existir doença microscópica bem como órgãos existentes na sua vizinhança que possam vir a ser irradiados. Aos volumes alvo são adicionadas margens de acordo com os conceitos que podem ser vistos aqui.

Terminada a delimitação dos volumes na imagem, é feita uma prescrição da dose que cada volume alvo deve receber diariamente e no conjunto de todas as fracções do tratamento. Em conjunto com essa prescrição são também definidos quais os limites de dose a serem respeitados em cada um dos órgãos de risco, no sentido de minimizar o mais possível os efeitos secundários decorrentes da exposição à radiação.

Definidos que estão os objectivos, segue-se a parte de os conseguir alcançar. Nesta altura, e recorrendo a um programa de computador que permite fazer cálculos de dose, é função do radioterapeuta dosimetrista e/ou físico elaborar um plano de tratamento. 

Aqui faz-se uso de várias estratégias e emprego de várias técnicas no sentido de chegar àquele que será a melhor estratégia para conseguir atingir os objectivos preconizados pelo médico. 

Finalizado este plano, ele é sujeito a uma aprovação por parte do médico antes de ser efectivamente administrado.

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Ainda dentro do planeamento várias verificações são levadas a cabo. Uma delas, e aqui já terão que estar presentes, passa por verificar que o que foi planeado é de facto reprodutível. Este passo, que pode ser chamado de simulação, permite verificar que os pressupostos anatómicos do planeamento se mantêm e que o plano é passível de ser aplicado no sítio correto. 

Nesta fase é replicada a posição (com os mesmos acessórios) definida na aquisição da TAC para planeamento e são verificadas as incidências dos feixes. De uma forma simplista, permite-nos verificar que vamos acertar no alvo. Existem várias formas de fazer esta verificação e não tem sequer que ser um momento particular para que aconteça. Pode ser feita antes mesmo de se fazer o tratamento.

Tratamento

É nesta fase que construirá a sua rotina no serviço de radioterapia. O tratamento decorrerá, provavelmente, num equipamento chamado acelerador linear e pode ser um pouco intimidante. 

É um equipamento grande, que se move numa rotação de 360º em torno do seu próprio eixo. É nele que se vão deitar na posição inicialmente definida, com os respetivos acessórios e que será replicada todos os dias de tratamento.

Ao deitarem-se no equipamento, os radioterapeutas que o acompanham começarão por ajustar a sua posição tendo por base as tatuagens e/ou marcações que já têm no sentido de localizarem o sítio exacto onde o feixe de radiação vai incidir. A partir deste momento não se deverá mexer, mas não se esqueça de respirar!! 

Seguidamente, podem ser feitas imagens que visam verificar que as suas estruturas anatómicas se encontram de acordo com a imagem de TAC adquirida inicialmente. Esta verificação com imagem tem também como objetivo serem feitos alguns ajustes à sua posição.

O passo seguinte é o tratamento propriamente dito. 

Nesta altura, o equipamento vai, de forma automática, executar tudo o que foi definido durante o processo de planeamento. 

É de referir que a intervenção do radioterapeuta nesta altura é a de monitorizar, já que todos os parâmetros são controlados informaticamente, não dependendo diretamente da ação do radioterapeuta, minimizando assim a entrada manual de procedimentos e com ela a possibilidade de erros.

Estes equipamentos dispõem de uma grande variedade de sistemas, que associados a todas as verificações feitas trazem a segurança de que todos os tratamentos são executados de acordo com o planeado.

Com o avançar dos tratamentos o radioterapeuta irá sempre acompanhá-lo, ouvi-lo e compreendê-lo de modo a perceber a sua evolução, as suas dificuldades clínicas e não clínicas devendo ser o seu suporte no dia a dia. Use-o. Ele está lá para o ajudar.

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Consultas

Estas consultas são as que vai fazendo ao longo do tratamento. 

Nelas, vai encontrar o seu médico que irá rever consigo a evolução do seu tratamento no sentido de avaliar as suas dificuldades, efeitos secundários e intercorrências. Neste sentido o médico pode, após alguma destas consultas ou em qualquer momento, fazer ajustes ao seu plano de tratamento, que podem passar pelo completo replaneamento, ajustes à dose diária ou à dose total, entre outros.

Resumindo

O tratamento de radioterapia consiste em diferentes etapas. A consulta de acolhimento é a sua introdução à radioterapia, ao serviço e ao seu tratamento. Aqui deve esclarecer todas as dúvidas que tenha. Em termos de procedimento o processo inicia-se na aquisição da imagem de TAC para planeamento onde serão identificadas as áreas a tratar e a proteger durante o planeamento. Neste são aplicadas várias técnicas e estratégias no sentido de chegar àquele que é o melhor plano para atingir os objetivos delineados pelo seu médico.

É o tratamento que vai ser a sua rotina na radioterapia. É o seu dia a dia. O radioterapeuta vai lá estar para se assegurar de que é corretamente administrado, sendo o seu suporte nesta etapa da sua vida.

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