Bem-vindos de volta!
Depois de termos visto no artigo anterior alguns pontos importantes sobre o estadiamento entramos agora na radioterapia da mama de forma mais concreta.
Grande parte dos homens e mulheres com cancro de mama fazem radioterapia em alguma altura do seu tratamento sendo, por isso, uma das patologias que mais tratamos, chegando mesmo a reapresentar mais de metade de todos os tratamentos de radioterapia em alguns hospitais e clínicas.
No que à radioterapia diz respeito é um tratamento com algumas particularidades que, com esta série de artigos, pretendo desmistificar.
Consultas
A radioterapia inicia-se numa consulta de acolhimento e/ou numa consulta médica inicial. Trata-se de consultas onde se pretende dar-lhe a conhecer as várias coisas que precisará de saber durante o seu tratamento. Quero aqui sublinhar que ao chegar à radioterapia já tem um diagnóstico feito, o seu caso já se encontra devidamente estadiado e já tem um plano de tratamento definido. Assim, esta consulta é sobre tudo o que vai acontecer na radioterapia.
Se for fazer tratamento num centro que tenha as duas consultas (acolhimento e médica) é importante saber o que deve retirar de cada uma. Nesta estrutura elas não se atropelam. Antes complementam-se.
Assim, da consulta médica deverá ser informada de todos os aspetos clínicos da sua doença, do tratamento que vai fazer, de quantos tratamentos vai fazer, quais os efeitos secundários que poderá vir a ter e quais os cuidados que deve ter para os minimizar. Nesta consulta o médico poderá prescrever-lhe alguma medicação dando-lhe indicações sobre como a tomar e a que se destina. O médico que irá conhecer é o médico que irá seguir o seu progresso, ajustar o seu tratamento caso exista necessidade e será o responsável máximo pelo seu tratamento. Por outras palavras será o seu médico.
Quanto à consulta de acolhimento, o seu objetivo é um pouco diferente e a dinâmica da consulta pode depender muito dos profissionais envolvidos. Nela poderá encontrar Radioterapeutas, Enfermeiros e Psicólogos. Não quero com isto dizer que estarão todos nesta consulta, mas antes que a consulta pode ter o espaço que precisar para o que precisar, visto que poderá ir de encontro às suas necessidades. A lógica assentará sempre em lhe explicar em mais detalhe o que vai acontecer, como vai ser, o que se vai fazer e para quê, os auto cuidados que deve ter durante o tratamento e com isto procurar controlar alguma ansiedade que possa ter acerca desta etapa. Na verdade, é um espaço que apesar de ter uma matriz pode conter mais ou menos de alguns elementos procurando ajustar-se a si e às suas necessidades.
Imagem para Planeamento
Assim, concluída a sua “apresentação” à radioterapia, ao serviço e às pessoas que nele trabalham para si entramos naquela que é uma das mais importantes fases do seu tratamento, pois irá representar a nossa base de trabalho. Falo-vos de uma aquisição de imagem para planeamento do tratamento. Uma descrição pomposa para dizer que vão fazer uma TAC. É isso!
Por esta altura já devem ter feito alguma no decurso da vossa já longa caminhada, mas esta tem algumas coisas diferentes das outras e que fazem com que não sirvam para o propósito que necessitamos. Passo a explicar. As que possam já ter feito tinham como objetivo “ver” a doença para que fosse feito um diagnóstico, um estadiamento ou uma avaliação após um qualquer procedimento. E essas poderão servir para outra coisa. Mas a seu tempo explicarei.
Na TAC da radioterapia pretende-se fazer uma imagem em que ficam deitados no equipamento, naquela que vai ser a posição em que todos os dias vão ficar quando forem fazer o tratamento. É claro que também precisamos de “ver” a doença, mas precisamos de a “ver” quando estão deitados naquela posição. Digamos que só assim poderemos dirigir a radiação para o sítio certo. No fundo, o planeamento que vamos fazer assenta sobre a ideia de que todos os dias em que vier fazer tratamento o seu corpo se encontra exatamente na mesma posição em que estava nesta imagem e, como consequência, também face ao equipamento que produz a radiação. A isto chamamos reprodutibilidade e é uma das bases da radioterapia. Saiba mais visitando a secção dedicada a ela no site.

Uma vez que esta imagem vai servir para planearmos o seu tratamento há outra coisa que precisamos desta imagem. Embora seja uma coisa um pouco mais técnica tentarei não vos aborrecer com isto. De um modo simples, sabemos que a radiação interage de formas diferentes com diferentes tecidos. A radiação interage de forma muito diferente com um pulmão ou com um osso e isso deve-se à densidade de cada um. Abreviando toda a tecnicalidade, como a TAC da radioterapia está “calibrada” por nós, conseguimos saber qual a densidade de cada tecido do seu corpo, permitindo-nos estudar com mais rigor a forma como a radiação vai interagir consigo. Este é um passo importante para que o seu tratamento seja exatamente isso. Seu, apenas seu e administrado apenas a si fazendo da radioterapia um tratamento altamente personalizado.
Nesta altura, e uma coisa que também pode diferir das outras TAC’s que possam ter feito, é a nossa necessidade de ver a totalidade do contorno no vosso corpo na área que vamos tratar. Isto é diferente porque as imagens de diagnóstico podem-se focar apenas numa determinada área ignorando o contorno do corpo, o que para nós não nos permitiria estudar com precisão o comportamento da radiação ao interagir com o vosso corpo. Dito isto, no caso da mama precisamos que a imagem contenha ambas as mamas, as áreas da axila e do peito junto às clavículas e o pescoço, ambos os pulmões, o coração e, eventualmente, o fígado. Digamos que necessitamos de ver tudo o que fica no tórax e junto dele.
Para a aquisição da imagem propriamente dita verá que a marquesa do equipamento andará para a frente e para trás passando pelo “buraco” em forma de anel, que é onde se encontra o feixe de radiação que torna possível fazer a imagem. Quando terminar é importante que não se mexa sem que tenha indicações para isso pois será necessário fazer algumas marcações na sua pele.

Cada serviço tem o seu protocolo, mas necessitará no mínimo de 3 e podem ser colocadas em diferentes sítios do tórax. Geralmente colocadas uma de cada lado do seu corpo na zona das costelas onde já não existe mama e uma outra geralmente colocada no espaço entre as suas mamas.
Estas marcações são pequenas gotas de tinta introduzidas abaixo da camada superficial da pele num processo semelhante ao de fazer tatuagens. Não se preocupe. O que vai sentir é muito menos do que sente ao colher sangue ou levar uma injeção já que a agulha não vai penetrar músculo. Vai apenas penetrar a pele sendo uma coisa muito superficial.
Estas tatuagens são apenas uma pequena gota de tinta cujo aspeto se assemelhará a um pequeno sinal que passará completamente despercebido na sua pele.
Saiba mais sobre esta etapa visitando o site.
Este artigo, que já vai longo, termina aqui. No próximo continuarei nesta etapa, mas mais focado na posição em que vai ficar.
Até lá!