Olá!
Hoje trago-vos mais um pedacinho do mundo da radioterapia, mais concretamente dos tratamentos de mama.
Tradicionalmente os tratamentos de mama sempre foram feitos com sucesso apesar dos movimentos da respiração. As técnicas de tratamento e monitorização dos tratamentos definiam o sucesso com base no conhecimento existente que, com o tempo, se veio a alterar. Acontece que com toda a evolução no campo da oncologia e radioterapia temo-nos tornado muito bons no que fazemos e os nossos doentes vivem agora durante muito mais tempo, potencialmente demonstrando efeitos secundários tardios.
"Mas afinal qual é o problema da respiração durante o tratamento?"
As pessoas respiram! É uma condição da vida! Mas ao fazê-lo, mexem-se!
É verdade! Tem tudo a ver com os movimentos dentro do nosso corpo enquanto respiramos, mais concretamente com o coração. Quando respiramos normalmente os nossos pulmões não mudam muito o seu tamanho e, como tal, o coração tende a ficar mais ou menos no mesmo sítio, aquele que todos identificamos. Centralmente no tórax, projetando-se para a esquerda.
No entanto, quando inspiramos profundamente, o nosso diafragma desce bastante, empurrado por todo o ar que estamos a colocar nos nossos pulmões, que insuflam, deixando o coração numa posição mais central e alongada.

"E o que tem isto a ver com a radioterapia?"
Frequentemente, o tratamento da mama é feito com campos de radiação tangentes à parede torácica, englobando a totalidade da mama e evitando dispersar radiação para outros locais do corpo. O que acontece neste caso é que, durante a respiração normal, aquela porção do coração que se projeta à esquerda pode ficar dentro dos campos de radiação. Esta porção do coração é onde se localiza uma pequena artéria coronária, que ao fim de décadas após o tratamento, pode provocar problemas cardíacos.
Ora, visto que quando inspiramos profundamente o coração tende a ficar mais alongado, este pode acabar a afastar-se dos campos de radiação evitando assim potenciais problemas no longo prazo.

Mas é claro que existem desafios em fazer os tratamentos desta forma!
Todo o processo da radioterapia assenta sobre a capacidade de repetirmos todos os dias de tratamento as mesmas condições. Assim, isto implica que todos os dias o doente tenha de encher os pulmões exatamente com a mesma quantidade de ar, coisa que é mais difícil do que possa parecer à primeira vista. Outro desafio é que o doente não se deve mexer durante o tratamento pelo que terá de aguentar algum tempo sem respirar.
Mas nem todas as estratégias passam por suster a respiração. Existem hoje diferentes formas de preservar o seu coração para que ele continue a bater por muitos anos.