Bem-vindos de volta!
Dando continuidade aos artigos anteriores sobre a radioterapia no cancro de mama, segue-se agora aquela que é a fase em que se decide como é que o tratamento vai ser executado. Esta fase de planeamento é onde se determina o que o equipamento vai fazer para durante o seu tratamento.
Tendo por base a imagem de TAC adquirida e os volumes nela identificados, é agora a altura de “imaginar” a melhor forma de tratar o que é para ser tratado e proteger o que é para ser protegido. Este processo de planeamento é feito num sistema computorizado que simula o equipamento onde o tratamento vai decorrer permitindo fazer uso das várias técnicas disponíveis e testar várias situações para se chegar ao melhor resultado possível. Podem saber mais sobre o planeamento aqui.
Como introdução ao planeamento de tratamentos de mama, há que falar primeiro de técnicas de irradiação. Entre as várias possíveis e que podem consultar aqui, destacam-se, no que respeita a radioterapia externa, a técnica 3DCRT – tri-dimensional conformacional, IMRT – radioterapia de intensidade modulada e VMAT – radioterapia de irradiação volumétrica em arco. Para não alongar o artigo não vou entrar nos detalhes de funcionamento de cada uma, mas podem saber mais seguido o link acima.
Antes de qualquer outra coisa quero dizer que nenhuma delas é melhor do que a outra. Todas elas apresentam vantagens e desvantagens e quero reforçar que não existe evidência de que exista melhor controlo da doença por se usar uma ou outra técnica. Dito isto, entremos um pouco no que cada uma oferece sobre a outra.
3DCRT - Tridimensional Conformacional
O tratamento com esta técnica consiste, de forma geral, em duas incidências do feixe sobre a mama de forma tangente.


Como podem ver nas imagens acima os dois feixes incidem directamente sobre a mama, entrando um junto do osso Esterno e o outro, mais posterior, pela zona da axila e flanco. A estes feixes de radiação poderão ser adicionados alguns modificadores que têm como função tornar a deposição de dose mais homogénea ao longo de toda a mama.
Pelas imagens podem também ver que uma pequena porção de pulmão e coração (caso seja a mama esquerda) vão estar incluídas nos campos de radiação. Da mesma forma, este tipo de irradiação leva também a uma irradiação da axila, sendo estas as principais desvantagens desta técnica. Como vantagem tem o facto de mais nenhuma parte do corpo ser irradiada, com especial foco para a mama saudável.
IMRT - Radioterapia de Intensidade Modulada
O tratamento com esta técnica consiste também em incidências tal como a anterior. Porém, embora possam ser feitas apenas duas, são geralmente usadas mais, de modo a retirar maior partido da técnica. Uma vez que faz uso da modulação de feixes de radiação, esta técnica permite, potencialmente, uma menor irradiação dos órgãos sãos.

É também aqui que as coisas mudam um pouco. Como podem ver na imagem, o uso de várias incidências faz com que vá existir radiação dispersa em direcção a estruturas que não são irradiadas na técnica de 3DCRT.
Então em que é que ficamos? Digamos que com IMRT existem menos doses altas nos pulmões, coração e axilas, mas mais doses baixas e longe do nosso alvo.
E porque é que isso é um problema? Bem, abreviando a história, é sabido que a radiação provoca cancro. Esta dualidade da radiação, que trata e provoca cancro, está relacionada com doses. Doses mais altas destroem células. Doses mais baixas podem induzir mutações que podem levar a um segundo tumor. Podem saber mais sobre radiobiologia por aqui.
VMAT - Radioterapia Volumetrica Modulada em Arco
Esta técnica não usa incidências estáticas, fazendo uso de uma irradiação contínua ao longo de um arco. É também uma técnica de modulação da radiação. Apresenta geralmente as mesmas vantagens e desvantagens da IMRT, mas é geralmente mais rápida na administração do tratamento.
Tendo em conta estes e outros aspectos, dos quais falarei noutros artigos, não é consensual qual a melhor técnica para o tratamento mamário. Reforço que no que respeita ao controlo da doença não existem diferenças, existindo sim nos potenciais efeitos secundários a curto e a longo prazo.
Ao falar com o seu médico durante a primeira consulta, e caso não lhe seja explicado, questione e coloque todas as dúvidas que tenha sobre o tratamento que lhe vai ser administrado. Informe-se e faça parte do processo de decisão.